14/04/2011 por blogdojua
Um desatino federal diante das tantas carências nacionais
Um projeto público deve, prioritariamente, visar o bem estar da maioria da população, atendendo, sobretudo, as necessidades básicas. Num País onde mais da metade das mortes por doenças tem como origem a falta de saneamento básico; onde a saúde pública está sempre na UTI; a segurança inexiste, o transporte e as vias são deficientes, o investimento aprovado para o trem-bala entre Rio e São Paulo, soa como uma afronta, uma provocação, um desdém para com a Nação. São 34,6 bilhões de reais de dinheiro público desviados para o bem de uma pequena parte, a rica, de duas cidades.
O que será mais importante para a população, o País? Um Trem de Alta Velocidade (TAV), para servir uma pequena parte privilegiada de duas capitais ou a garantia do básico à maioria absoluta, como abastecimento de água, serviço de esgoto, reduzindo drasticamente a mortalidade infantil pela falta de saneamento? Países sérios, que investiram em transporte rápido como o TAV, há muito já resolveram suas carências básicas em infraestrutura, em todos às suas vertentes.
Apenas como comparação, o desastre ocorre em todos os quadrantes do Brasil, a capital federal, Brasília, não possui transporte público. O que existe não pode se dar à honra desse nome. Sucatas são utilizadas e se denominam ônibus. As pessoas fazem seus deslocamentos amontoadas uma às outras, pagando caro para colocar a vida em risco devido à falta de manutenção do que ainda chamam de veículos.
Em São Paulo, a rede de metrô não atende à demanda. Mesmo assim transporta, em 10 dias, o mesmo que o bilionário projeto do TAV fará em um ano, 35 milhões de passageiros. Cidades como Belo Horizonte, com mais de 6,5 milhões de habitantes, não possui metrô. Há um pequeno trecho servido pelo de superfície, mas longe, muito longe de atender às necessidades.
O País, principalmente nas grandes cidades, não oferece opção de transporte. Não há trem de passageiros. Não há estradas adequadas e seguras. Aeroportos congestionados e passagens demasiadamente caras inviabilizam as viagens aéreas. Nas cidades, a opção é o veículo particular, mas não há onde estacionar e, em muitos casos, como e onde trafegar.
Mesmo diante desse drama real, os cofres públicos liberam bilionária quantia do Tesouro para o TAV, ao mesmo tempo em que alega não ter recursos para atender as necessidades prementes, visíveis, claras, clamadas. Estradas precisam ser recuperadas e duplicadas; é enorme a população sobrevivendo em áreas de risco, e precisando der ser removidas; os aeroportos estão ultrapassados e em permanente congestionamento; os portos são ineficientes e insuficientes; há déficit na geração e distribuição de energia elétrica, há inúmeros projetos de ferrovias de carga por desenvolver e as já existentes necessitam de investimentos para aumentar sua produtividade.
A tabela abaixo, extraída do sítio do Senado Federal, compara o custo do TAV com outros investimentos imprescindíveis e importantes para o País, e deixa clara a irresponsabilidade dos que aprovaram tal insânia. A conclusão é de cada um, diante dos números, dos fatos e da realidade.
A Cegueira da Governação
Príncipes, Reis, Imperadores, Monarcas do Mundo: vedes a ruína dos vossos Reinos, vedes as aflições e misérias dos vossos vassalos, vedes as violências, vedes as opressões, vedes os tributos, vedes as pobrezas, vedes as fomes, vedes as guerras, vedes as mortes, vedes os cativeiros, vedes a assolação de tudo? Ou o vedes ou o não vedes. Se o vedes como o não remediais? E se o não remediais, como o vedes? Estais cegos. Príncipes, Eclesiásticos, grandes, maiores, supremos, e vós, ó Prelados, que estais em seu lugar: vedes as calamidades universais e particulares da Igreja, vedes os destroços da Fé, vedes o descaimento da Religião, vedes o desprezo das Leis Divinas, vedes o abuso do costumes, vedes os pecados públicos, vedes os escândalos, vedes as simonias, vedes os sacrilégios, vedes a falta da doutrina sã, vedes a condenação e perda de tantas almas, dentro e fora da Cristandade? Ou o vedes ou não o vedes. Se o vedes, como não o remediais, e se o não remediais, como o vedes? Estais cegos. Ministros da República, da Justiça, da Guerra, do Estado, do Mar, da Terra: vedes as obrigações que se descarregam sobre vosso cuidado, vedes o peso que carrega sobre vossas consciências, vedes as desatenções do governo, vedes as injustças, vedes os roubos, vedes os descaminhos, vedes os enredos, vedes as dilações, vedes os subornos, vedes as potências dos grandes e as vexações dos pequenos, vedes as lágrimas dos pobres, os clamores e gemidos de todos? Ou o vedes ou o não vedes. Se o vedes, como o não remediais? E se o não remediais, como o vedes? Estais cegos. Padre António Vieira, in “Sermões”.