Zé Povinho, zé sarney, zé collor, zé fhc, zé lulla…

29/04/2011 por blogdojua

(…) um gênio maligno, que é ao mesmo tempo sumamente potente e enganoso, empregue toda seu talento para lograr a mim. Vou acreditar que o céu, o ar, a terra, as cores, as figuras, os sons e todas as demais coisas externas são nada mais do que ilusões de sonhos, que esta criatura emprega para me iludir.” (…) Descartes)..

Pessimus caecus qui non vult videre est

Há 136 anos, para retratar a sociedade lusitana da época, um genial caricaturista, Rafael Bordalo Pinheiro, criou talvez seu mais notável personagem, o Zé-Povinho. Marca indelével de sua percepção, síntese e arte, Zé-Povinho espelhava o “ignorante, servil, bonacheirão, com a sua albarda e o seu riso soez”; o Labéu de um povo ingênuo, paciente, vil, torpe, reles, ordinário, vulgar…

Resultado de imagem para Rafael Bordalo Pinheiro zé Povinho.

Zé-Povinho era a imagem da raia-miúda portuguesa (J. Augusto-França), explorada por políticos corruptos e incompetentes. E ainda continua sendo evocado em Portugal, quando se pretende criticar as atitudes e procedimentos coletivos estúpidos e alarves. Tolos, parvos, palermas diante da política e, inda mais, dos politiqueiros. Como se vê, é um mal congênito, continuando alastrar-se muito além mar.

No Brasil, de século XXI, o Zé-Povinho gera. Procria. Reproduz. Multiplica, mantém, prolifera e cria muitos Zés, nomeados Zé-Sarney, Zé-Collor, Zé-Lulla entre tantos… Quarteto infernal, abjeto desdouro de infames conspurcadores da progênie, a pacóvia nacional.

Nesses tempos modernos de inferno sem fim de notícias, mas de infinita, pensada e conveniente tacanhez de informações, gerações inteiras de inhenhos decréptos Zé-Povinho vão sendo emolduradas, formatadas, robotizadas, mantidas, cativadas, seduzidas, granjeadas na forma e no conteúdo que melhor convém às suas crias, albardeiros de embustes e arapucas, os Zé coronéis Neys, Olor, Ulas e tais…

Forjando uma opinião pública sobre os assuntos que ela própria cria, a prole de zes, sob a inspiração de seu espírito daninho, arrola imprensa, políticos, sindicatos e correlatos, caldeando conceitos de juízos que Zé-Povinho sequer imagina, mas que abarca como seus, mal reparando ou fingindo não, a parvoíce que o domina, que o cega, que o forja, que o amalgama à centenária servidão voluntária  refletida e repercutida no século 16, no discurso de Étienne de La Boétie:

Esse que tanto vos humilha tem só dois olhos e duas mãos, tem um só corpo e nada possui que o mais ínfimo entre os ínfimos habitantes das vossas cidades não possua também; uma só coisa ele tem mais do que vós e é o poder de vos destruir, poder que vós lhe concedestes.

Onde iria ele buscar os olhos com que vos espia se vós não lhos désseis?

Onde teria ele mãos para vos bater se não tivesse as vossas?

Os pés com que ele esmaga as vossas cidades de quem são senão vossos?

Que poder tem ele sobre vós que de vós não venha?

Como ousaria ele perseguir-vos sem a vossa própria conivência?

Que poderia ele fazer se vós não fôsseis encobridores daquele que vos rouba, cúmplices do assassino que vos mata e traidores de vós mesmos?

Semeais os vossos frutos para ele pouco depois calcar aos pés. Recheais e mobiliais as vossas casas para ele vir saqueá-las, criais as vossas filhas para que ele tenho em quem cevar sua luxúria.

Criais filhos a fim de que ele, quando lhe apetecer, venha recrutá-los para a guerra e conduzi-los ao matadouro, fazer deles acólitos da sua cupidez e executores das suas vinganças.

Matai-vos a trabalhar para que ele possa regalar-se e refestelar-se em prazeres vis e imundos.

E quanto mais decai, quanto mais declina-se aos gênios malignos que elege, perpetua, sustenta, mais ilusões alimenta e mais Zé-Povinho fecunda para fomentar os Zé-Sarney, Zé-Collor, Zé-Lulla, Zé-FHC, Zé-Renan… que nascem, crescem e se fortalecem, mantendo, fortificando, perenizando a roda-viva da idiotice, da estultice, da imbecilidade, da escravidão, que se torna voluntária, cultural, bestial tradição nacional.

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Nesse Matrix real, estabelece-se um clima ilusório de maneira tal que o Zé-Povinho e o Zé Mané sejam incapazes de compreender os métodos utilizados para o seu controle e a sua escravidão.

“A qualidade da educação dada às classes inferiores deve ser da espécie mais pobre, de tal modo que o fosso da ignorância que isola as classes inferiores das superiores seja e permaneça incompreensível pelas classes inferiores.”.

Induz-se, o Zé-Povinho, a comprazer-se na mediocridade. De sua estultice. Incentiva-lhe a se regozijar de sua estupidez, de sua idiotice, de sua vulgaridade, de ser inculto. E mais Zés aparecem.

Mais algozes, mais ongs, mais imprensa, a fazer o Zé-Povinho acreditar ser o único responsável pela sua infelicidade, sua inferioridade, seus problemas, por falta de inteligência, por incapacidade, por imbecilidade… Levando-o a desvalorizar-se e culpabilizar-se, a um estado depressivo que resulta na inibição da ação, à passividade, o aceitar calado, o acomodar-se, o aceitar-se como um tolo, néscio, imbecil, insensato, inepto, estúpido… Um real Zé-Povinho… e assim continuar elegendo e reelegendo figuras como FHC, Lula, Sarney, Collor e tantas outras pragas que pululam por aí…

Ao invés de revoltar-se contra o sistema, o Zé Povinho, sem memória e sem informação, apraz-se em ser o bobo da corte, e vê, resignado e inerte, os mesmos zes se repetindo, e repetindo as mesmas barbáries, as mesmas insanidades, os mesmos crimes, cônscios da impunidade, convictos da passividade, com a certeza da ignorância e de que tudo se repetirá, sempre, sem que o Zé-Povinho sequer note, se indigne, se revolte.

Assim, repetem-se os crimes. Zé-Sarney, por conta de uma eleição, pela ganância de poder, pela sede insaciável do PMDB, leia-se Ulisses Guimarães, deu fim ao Plano Cruzado em 1986. Matou muitos. Faliu outros muitos. Danou a todos. Perdeu-se uma década.

Assim, Zé-Collor aprontou suas tantas, confiscou poupança, matou muitos, feriu outros muitos, faliu outros tantos de muitos. Perdeu-se mais meia década.

Assim, Zé-Lulla, para perpetuar seu partido no poder, comprometeu seriamente a economia nacional. Para eleger Zé-Dilma, deixou o barco à deriva, gastou, e mal, muito mais do que podia, na certeza de que continuaria ídolo do Zé-Povinho e que esse não se importa de pagar a conta, desde que continue sendo o que é, o engonço maninelo a divertir outros Zédirceu, Zédelúbio, Zélenice…

Fantoche, Zé-Povinho hiponitiza-se com o circo, mantendo-se eternamente tolerante e ingênuo, e delegando direitos para uma classe especial de Zés, os espertos. Fica somente com as obrigações e a conta. Adora ser roubado, enganado, ludibriado, explorado, tratado como bocó. Comprova, com a prática, ser da natureza dos bobos não reclamar. Ser paciente, literalmente, nas filas dos hospitais; aceitando com passividade a ausência de médicos, remédios, leitos, conformados com as promessas que não se realizavam. Suporta a violência, as suspeitíssimas e benevolentes leis à bandidagem em todos os seus matizes. Tolera a roubalheira sem fim; a libertinagem, a sacanagem, as falcatruas, a devassidão, a bandalheira, insiste ser o que sempre foi. O Zé-Povinho. O Bobo e o pior dos cegos, aquele que não quer ver.

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