Escrever o nome do ingrato no calcanhar era a vingança do coração machucado e em Portugal, as crianças pagãs são chamadas de Inácio
Conta-nos Câmara Cascudo que o Jus Pontificum (direito dos pontífices) romano, proibia dar aos deuses seus verdadeiros nomes. Ignorava-se quem era o legítimo e oficial defensor divino da cidade. Guardava-se o segredo para protegerem-se das seduções inimigas.
A própria Roma tinha outro nome, guardado a sete chaves e que somente os sacerdotes conheciam. Também os sacerdotes, gregos e romanos, tinham nomes secretos só conhecidos pelos companheiros.
No catolicismo não se conhece o nome d
a Primeira Pessoa da Trindade. Como não se sabe, é tratado por Pai, Santíssimo, Onipotente, Altíssimo. “… e tinha um nome escrito, que ninguém sabia, se não ele mesmo.”. Apocalipse de São João, XIX, 12.”. … 17 ‘(…) Ao vencedor darei o maná escondido e lhe darei uma pedrinha branca, onde estará escrito um nome novo, que ninguém conhece, a não ser quem a recebe’.

Os deuses orientais não revelavam seus verdadeiros nomes. Moisés teria morrido sem saber que se chamava Iavé. Maomé ensinava que Alá possuía cem nomes, mas só conhecia 99. A mudança de nomes, de soberanos e sacerdotes, que já ocorria no antigo Egito, tem muitas explicações. A alteração do nome era a divisão dos dois planos da vida.
O nome novo comandaria a nova etapa, nome oficial, proclamado e aceito. O antigo nome devia ser apagado. Para muitos, o nome está intrinsecamente ligado ao destino. Seu nome, seu destino.
O selvagem, que não consegue separar claramente as palavras das coisas, acredita que a conexão entre o nome e a pessoa ou a coisa é material, uma ligação real e com influência, como se por meio de outra parte física qualquer do copo, cabelo, pele, unha etc..
Os Arianos acreditavam que o nome era uma parte do indivíduo e plenamente identificado com a alma. O nome é a essência da coisa, do objeto denominado, Sua exclusão extingue a coisa. Nada pode existir sem nome porque o nome é a forma e a substância vital. No plano utilitário as coisas só existem pelo nome. Certamente não havia tradição mais forte, poderosa, influente, visível e identificável do que o nome, enfraquecida pelo advento da televisão cuja influência leva as pessoas a identificar-se pela sonoridade, pelo ídolo, herói ou heroína, não pelo significado. O nome inicia a existência. O nome é a pessoa em seu total. Escrevê-lo em locais impróprios é uma infâmia, uma injúria, que o diga o jogador Romário a Zagalo.
Segundo Cascudo, as mulheres desprezadas faziam tatuar o nome do ingrato no calcanhar. Ali, sofreriam o peso do corpo, a poeira e a humilhação que mereciam. Esse é um costume que sobreviveu até bem recentemente, sobretudo no chamado baixo meretrício e revela bem o poder do nome. No calcanhar, oprimido, machucado, violentado, está o homem odiado, não apenas as letras do seu nome.
Na tradição católica, o pagão é apenas uma perspectiva até que tenha um nome, mesmo antes da oficialização do batismo e do registro civil. Em Portugal, as crianças que ainda não receberam o batismo são chamadas de Custódio ou Inácio. E Inácio leva-nos a Luís Inácio da Silva que mudou o nome, como os grandes soberanos, depois que ascendeu política e socialmente. E como o nome está ligado diretamente a pessoa, a resposta encontra-se no Museo de Arqueología do Alta Montaña, em Salta,
Argentina. Lula, no idioma Quechua significa mentira, coisa enganosa, aparente, vã ou falsa. E comprovando o liame entre o nome e a pessoa, Lula tem perna curta. (Imagem:
