De Blogdojua de 31/12/2011 12.58.
Vive le réveillon du jour de l’An !
O passado e o presente são as duas margens e, entre as duas, constrói-se a ponte dos desejos
Todos preparam-se para a festa de Ano Novo. Para o Réveillon, galicismo herdado de réveiller que, ao pé da letra, significa “acordar-se”. Faire réveillon traduz-se em ficar acordado” (e “assistir” a chegada do Ano Novo). Galicismo, para quem se esqueceu, é palavra ou expressão imitada ou tomada da língua francesa.
Nesta data o que mais aflora são os desejos. Desejo de tudo quanto é matiz, tamanho, forma, cor e em quase todo o planeta. Quase, porque em muitos países esta não é a entrada do ano novo, o que não evita os desejos.
E o desejo e a esperança são as principais fontes da decepção e do sofrimento. Mas ninguém para de desejar e nem de manter a esperança. “A última que morre”, um castigo de Zeus.
Prometeu roubara o fogo dos deuses e entregou-o aos humanos. Com isso, provocou a ira de Zeus, que condenou-o ao castigo eterno. Acorrentou-o a uma rocha, (Montes Urais), onde tinha o fígado comido por um abutre durante o dia, recuperando-se à noite. Foi a pena eterna de Prometeu por ousar desafiar e comparar-se a um deus.
Zeus não parou por aí. Criou Pandora, irresistível mulher que enviou à Terra para casar-se com Epimeteu, irmão de Prometeu. A ela, Zeus presenteou com um jarro, com tampa, que continha todos os males do mundo.
Pandora e Epimeteu não resistiram, abriram o jarro, liberando todo o seu conteúdo, exceto um item, a esperança. A partir de então, os humanos começaram a sofrer com sua condição de fracos, incompletos e mortais, que só conseguem continuar vivendo e povoando a terra porque há esperança. E essa, para muitos, é o pior dos males, pois, se a esperança é tão boa e útil, o que estaria ela fazendo junto com os males humanos, dentro da mesma caixa?
Acredita-se que a esperança é filha da mentira e, por isso, considerada má. Assim, a verdade jamais pode ser ignorada, por mais cruel que seja, e a esperança, não raro, desvia a atenção dos homens, afastando-os da realidade, deixando-os ainda mais fracos.
Desejos seriam mendicâncias, alguém preconizou. E, se os desejos fossem cavalos, os mendigos seriam grandes cavaleiros. Mas todos os desejos são cavalos, e os mendigos são cavaleiros. Todos somos cavaleiros. Olhe para seus cavalos! Eles são seus desejos – mendigar, pedir, esperar – desconhecendo que possuímos tudo dentro de nós mesmos, mas sempre nos esquecemos de olhar para dentro.
Quando olharmos, todas as riquezas serão reveladas, eternas, abundantes; e não nos fartaremos delas. Quando olharmos para dentro, e com a natureza, reconheceremos quem somos: o filho do Todo.
Toda a mendicância desaparece e, pela primeira vez, seremos ricos. Cessando os desejos, abandonamos o futuro e o passado desaparece. É como uma ponte, precisa de dois lados. O passado e o presente são as duas margens e entre as duas constrói-se a ponte dos desejos, sobre um abismo infinito. E esta coisa chamada desejo não tem fundos.
E encontramo-nos em dois mundos. O mundo da matéria e o mundo do espírito – e mantemo-nos na fronteira. E hoje é o dia certo, literalmente, para acordarmos.
E Viva o Réveillon, num alegre despertar!